quarta-feira, 18 de março de 2009

Sadia & Perdigão

17/03/2009 às 07h19 | Brasil

Sadia e Perdigão devem unificar operação
Abaladas pela crise global, as duas empresas devem unir área operacional, principalmente distribuição e logística. Sadia apenas admite que negocia "associação" com a concorrente; união deve causar demissões nas duas gigantes de alimentos.(Matéria publicada na Folha de São Paulo)

Após a tentativa frustrada de compra da Perdigão pela Sadia, em 2006, as duas empresas deverão unir forças e criar uma estrutura para administrar a área operacional. Essa união, prevista para ocorrer ainda neste mês, servirá para reduzir custos de ambas num período de crise e de crédito curto.

Não é compra nem fusão, mas apenas um acordo operacional, segundo fonte ligada a uma das empresas. Procuradas, tanto Sadia quanto Perdigão não deram entrevista.

A Sadia divulgou nota no início da noite admitindo negociações com "terceiros". Citou ainda "entendimentos recentes" com a Perdigão para "algum tipo de associação", mas ainda sem acordo. Tanto Sadia quanto Perdigão buscam, com a redução de custos, fortalecer o caixa para obter capital de giro. Entre as áreas que devem ter os maiores ganhos de sinergia, estão transporte e logística, com união de entregas ao varejo e de centros de distribuição.

Esse enxugamento de estrutura pode também implicar corte de pessoal, além de retardar ou suspender projetos. No início do ano, a Sadia anunciou o corte de 350 trabalhadores no setor administrativo.

Margens menores

Com a crise, os preços dos alimentos, área de atuação de ambas, caem no varejo, dificultando a recuperação das empresas. As indústrias alimentícias também não conseguiram recuperar margens de lucro, perdidas com a alta dos insumos no início do ano passado, quando a economia crescia com vigor. A parceria estratégica beneficiaria particularmente a Sadia, que teve pesadas perdas no mercado de derivativos (contratos financeiros de alto risco atrelados ao dólar). No terceiro trimestre de 2008, a Sadia teve prejuízo de R$ 777 milhões, causados principalmente por derivativos e por investimentos no banco Lehman Brothers, que quebrou em setembro.

Para tentar fortalecer seu caixa, a Sadia tem tentado vender ativos não-operacionais, que somam R$ 1 bilhão. Entre eles, a área onde funciona a sede da empresa, na Vila Leopoldina (SP), para empreendimentos imobiliários. Segundo Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho da Sadia, também foi cogitada a possibilidade de venda do Banco Concórdia e de áreas de reflorestamento pertencentes à empresa.

Exposição cambial

Na última reunião com analistas de mercado, em fevereiro, a Sadia informou que sua exposição cambial era de US$ 500 milhões, próximo a dois meses de exportações. A empresa tinha, à época, R$ 1,7 bilhão depositados em bancos, valor equivalente à perda da empresa com derivativos.

A Sadia informou também, à época, que o custo de sua dívida tinha aumentado muito com o episódio dos derivativos. Mas disse ter renegociado sua dívida de curto prazo com todos os bancos credores. O alto nível de endividamento da empresa, somado ao risco de governança corporativa e à grande exposição ao mercado externo, fez com que analistas recomendassem cautela com a Sadia.

No mercado, ontem, investidores buscaram ações de Sadia e Perdigão, estimulados por rumores de negociações entre as duas empresas. A ação ordinária da Sadia -que tem volume de negociação reduzido- registrou valorização de 8,24% na Bovespa. Já sua ação preferencial, que registrou mais de 3.700 transações no pregão de ontem, subiu 2,15%. Os papéis preferenciais da Perdigão subiram 2,34%. A Bovespa fechou o dia com queda de 1,05%.

Lá fora, os investidores também buscaram se antecipar às esperadas novidades. Na Bolsa de Madri, os papéis da Sadia saltaram 7,61%. Em Nova York, os ADRs (recibos de ações de empresas estrangeiras) da Sadia encerraram com valorização de 4,8%.

(Matéria publicada na Folha de São Paulo)

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